23 de abril de 2008

As Sete Maravilhas.

Todos os dias me é dada a possibilidade de escolher entre o elevador e as escadas. Todos os dias o elevador leva a melhor. Ontem, não foi excepção. No entanto, com uma pequena nuance. Uma vez chegado ao piso pretendido, ao virar-me para a porta, um súbito receio emergiu. Pela primeira vez, num espaço semelhante, recordei a mítica cena de The Departed – Entre Inimigos (Martin Scorsese, 2006). Foi como reviver a magia do primeiro duche depois de Psico (Alfred Hitchcock, 1960). Muito lentamente, abri a porta. Suspirei, e em passo rápido sai em direcção à rua. O perigo tinha passado. Contudo, ao caminhar pelo passeio, já com um sorriso no rosto devido ao episódio idiota, pensei como seria bom poder visitar aquele preciso local do set de rodagem. Se tivesse a oportunidade de visitar um qualquer lugar por onde passaram as filmagens de The Departed, sem hesitar, escolheria o elevador daquele prédio abandonado no meio de Boston. Deste pensamento, ao que se seguiu, foi um passo: Que locais, presentes em filmes, gostaria de percorrer? Pergunta libidinosa. Por um lado, existem os filmes preferidos. Por outro, viagens que parecem divinais nas revistas da especialidade. Ao mesmo tempo, existe um ou outro local que já tive o privilégio de inspeccionar de perto. Nesse capítulo, os dias em Manhattan foram profícuos até mais não. Aproveitados de sol a sol. Ainda assim, ficaram uns quantos passeios por pisar, e uns quantos prédios por fotografar. Nada que um regresso não resolva. Agora, por tudo isto, os sete locais apresentados neste post, mais do que as Sete Maravilhas do Cinema, são os sete pontos espalhados por esse planeta, que este cinéfilo mais gostaria de visitar, por culpa de um determinado filme. Porque no final virá a questão da praxe, fica desde já o aviso que isto é coisa para levar um tipo a puxar os cabelos. Quando damos por nós a desejar uma viagem às profundezas dos oceanos, com o intuito de visitar o reino da pequena Ariel, percebemos que isto não é fácil. No mundo real, após uma rigorosa selecção, eis as sete maravilhas eleitas.

7– Shibuya

Na verdade, esta maravilha decompõe-se em duas. Num primeiro momento, subiria ao segundo andar do Starbucks onde Sofia Coppola assentou arrais com a equipa de filmagens. Ai, na mesa mais perto da janela, pediria um chocolate quente, e ficava a imaginar a jovem Charlotte perdida nas passadeiras de Shibuya. Uma vez terminada a bebida, desceria até à rua, e andava para trás e para a frente em todas aquelas passadeiras, até nenhuma ficar por percorrer. É que tinham de ser mesmo todas. Se não descobrisse a vagueante Charlotte, regressaria ao hotel. Aí, pelo menos, sabia que, ao balcão do bar, encontraria Bob.

6 – Boca da Verdade

Esta é a maravilha atravessada na garganta. A única razão pela qual a Fontana di Trevi, imortalizada por Anita Ekberg e Federico Fellini (A Doce Vida, 1960), não consta desta lista, é porque a cidade de Roma já consta das paragens de Alvy Singer. O problema é que a Boca da Verdade não foi um dos pontos de visita. Remorso é a única palavra no bolso para isto. É verdade que aquilo não passa de uma tampa de esgoto do tempo do Império Romano, onde, durante a Idade Média, os maridos levavam as suas mulheres. Estas metiam a mão dentro da boca da figura e dizia-se que, se a mulher tivesse sido infiel, a boca fecharia com a mão no seu interior. Floreados à parte, esta é o local onde Gregory Peck arrancou um grito genuíno a Audrey Hepburn, num dos melhores romances de sempre. Antes de passarmos à próxima maravilha, permitam-me só mais uma valente cabeçada na parede.

5 – Aeroporto Bob Hope

O nome não dirá grande coisa, para não dizer que não diz rigorosamente o quer que seja. Se dissermos que se trata do local onde ficou registado um dos melhores finais de todos os tempos, não estaremos a mentir. Se dissermos que foi aqui que se filmou uma das melhores ultimas frases de sempre, também não enganamos ninguém. Era para ter sido em Casablanca. Contudo, em plena II Guerra Mundial, nem a própria cidade de Los Angeles era suficientemente segura. Até em solo americano, as cenas foram filmadas apenas após o sol se pôr. E, apesar de o avião que vemos descolar, ter sido filmado em Van Huys, foi nos estúdios do outrora Aeroporto Burbank, hoje, Bob Hope, que Humphrey Bogart se virou para Claude Rains, e disse, “Louis…”.

4 – Moulin Rouge

É verdade. Paris. Certamente que haverá muito para ver na Cidade da Luz, no entanto, a escolher apenas uma, tem de ser esta. Não fosse o génio de Baz Lhurmann, e o Moulin Rouge não suscitaria metade da curiosidade. Sempre que alguém visita a capital francesa, a primeira pergunta nunca é sobre a Torre Eiffel. Então, foram ao Moulin Rouge? Até hoje, não consegui ainda construir um cenário mental do local. A cada descrição, a fantasia distorce-se. A única certeza é a de que, ao olhar para o moinho, antes de entrar, será obrigatório colocar os phones, e escutar a banda-sonora. Criar o ambiente. Fechar os olhos, e ouvir o medley Elephant Love.

3 – Sicilia

De todas as maravilhas, esta é a única em que se imporá uma indumentária a rigor. Botas gastas, calças de fazenda, uma camisa suja, colete, boina, e, vamos lá, uma espingarda de plástico. Até pode ser uma bisnaga. Desde que pareça real, e dê o efeito pretendido, não haverá qualquer objecção. Temos é de sentir-nos como Michael Corleone a caminhar por aqueles planaltos dourados. A aguardar um telefonema da famiglia. Um ser perigoso em ascensão, controlador de negócios sujos e do crime organizado de Nova Iorque. Passear por aquelas aldeias típicas da região, como Savoca e Forza d’Agro, e pedir um prato de esparguete com queijo e chouriço para o almoço. Sem esquecer, nunca, que somos um ser perigoso em ascensão. Perto dos amigos. Mas, ainda mais dos inimigos. Ir à Sicilia é uma viagem que jamais poderemos recusar.

2 – Lincoln Memorial

A exemplo do que acontece na maravilha anterior, aqui também seria necessário vestir a pele da personagem. Não tanto pela roupa, mas, fazer o que ela fez. No entanto, esta será uma tarefa ainda mais complicada, na medida em que implica recrutar um cúmplice. A receita passa por visitar Washington durante uma semana, com a nossa cara-metade. Ao primeiro dia, se possível, ainda no aeroporto – quanto mais cedo melhor –, aprontamos uma tremenda discussão, ao ponto de termos de ir para hotéis separados. Sem nunca perdermos o contacto (até porque teremos o regresso marcado para o mesmo dia, e alguém ficará com os dois bilhetes), arranjamos um encontro aparentemente fortuito no Lincoln Memorial. Mais ou menos à hora marcada, o ideal será conseguir arrancar o microfone de uma qualquer manifestação, por ali a decorrer. Ao avistarmos, ou ouvirmos, a nossa cara-metade, basta descer a escadaria, e correr na sua direcção. Correr, qual Forest. Caramba, se isto não fizer o dia de alguém, o que fará?

1 – Sunset Boulevard

O plano há muito que está delineado. A sua simplicidade, a isso também ajuda. A ideia passa por começar numa ponta, e acabar na outra. Nada de muito complexo. Olhar para o lado, e reconhecer tantos locais, referidos em outros tantos filmes. Um santuário da Sétima Arte. Respirar aquela que será, talvez, a avenida que mais vezes passou no grande ecrã. Pisar os passeios da avenida que deu o título à obra-prima de Billy Wilder. Local por onde todos passaram, e onde todos buscaram inspiração. São quase 35 quilómetros. Cada metro valerá a pena. Sobretudo aqueles junto do local onde ficava a casa de Norma Desmond.

Agora, o aviso até já tinha sido feito, a pergunta habitual no final deste tipo de posts. Quais as Sete Maravilhas do Cinema, para aqueles que visitam este espaço?

5 comentários:

claudiagameiro disse...

Assitir a um pôr do sol num dos muitos países africanos que fazem de cenário a uma série de filmes. Um Fiel Jardineiro ou um Diamante de Sangue seriam de referir (sem os guerrilheiros à perna, é claro!)

C. disse...

Belo post, mas assim que falaste de elevadores, lembrei-me dum elevador que vi recentemente. O do filme de Brian de Palma - "Dressed to Kill" :)

Arte Revisitada disse...

"I had a farm in Africa". Por falar em países africanos, que tal um passeiozinho de avião, com Robert Redford ao comando, por aquelas paisagens belíssimas que se aparecem no "Out of Africa"?

Pedro Xavier

Joana disse...

Sunset Blvrd. aquece o coraçao :)

cumprimentos

Anónimo disse...

Acabei de perder uma parte da minha vida...Eu que pensava que a cena do "Casablanca" tinha mesmo acontecido no aeroporto de Casablanca e até já tinha tido a oportunidade de a recrear no cenário exacto, descobri agr k não o fiz e entresteci-me um pouco;)