4 de maio de 2008

Começamos bem.

Ver o primeiro blockbuster da temporada, no fim-de-semana de estreia, é uma tradição que tenho procurado manter ao longo dos anos. Há qualquer coisa de mágico, naquela romaria para o Cinema. Ver a sala maior do multiplex a encher, o número de cabeças a aumentar até às primeiras filas, e sentir que até os trailers provocam burburinho. Apesar de, ainda hoje, ter a possibilidade de assistir a antestreias, nada recompensa a partilha de emoções com mais quatrocentas vivalmas. As gargalhadas gerais, os Ooohh, o sentir que alguém, sete lugares à esquerda, deu um salto da cadeira, os suspiros conjuntos. Felizmente, foi com Iron Man que tudo isto aconteceu, este fim-de-semana.

Antes de mais nada, que se coloquem todas as cartas em cima da mesa. Até este sábado, nunca tinha entrado na casa de Tony Stark. Nunca tinha lido uma única tira da Marvel sobre este herói. Nem sequer visto um desenho animado. Sabia da sua existência, conhecia o fato. Assim como sei de Muralha da China, e conheço os tijolos. Tudo muito superficial. Até hoje, por exemplo, Pepper era apenas sinónimo de uma bebida. A partir deste fim-de-semana, e, pelo menos, até deitar as mãos a algum comic book, o filme de Jon Favreau é a referência na mitologia do homem de ferro. O maior elogio que poderei deixar ao filme do homem que passou como secundário em séries como Friends, é o de ter deixado uma vontade do camandro de ler e conhecer tudo o que há para conhecer sobre este herói da Marvel. Temos de tratar disso.

Mais especificamente, podemos afirmar que Iron Man é um dos melhores filmes do ano. Até diria que é tudo aquilo que uma adaptação deve ser, se soubesse mais sobre aquilo que está a adaptar. No fundo, sabe bem ver um filme de entretenimento, que entretém. No entanto, não só diverte, como ainda se dá ao luxo de atirar para o ar algumas farpas, que alguns entusiastas não resistem a apanhar, para longo partirem para discussões sobre políticas internacionais. Acima de tudo, Jon Favreau parece saber o que quer e, mais importante, como obtê-lo. Assim como o fato, este é um filme com cabeça, tronco e membros. Consciente da importância do pontapé de saída numa saga (sim, porque a sequela já está agendada para 2010), o realizador não teve qualquer problema em optar um registo mais sério, pragmático e sem pressas. O filme não se perde em gags inconsequentes. Em Iron Man, tudo leva o seu tempo. Talvez por isso, a história tenha tão poucas ramificações. Não há muito assunto para tratar. O enredo é bastante linear, e o propósito é bem visível, desde inicio. O que é bom, porque, aquilo que nos é contado surge de forma pormenorizada. Será preciso, talvez, recuar até ao primeiro Batman (Tim Burton, 1989), para vermos uma tão boa desconstrução do homem que dá lugar ao herói.

No entanto, Iron Man padece do mesmo mal de outros primeiros filmes. Ao ser necessário dar a conhecer como tudo começou, facilmente dividimos a obra em dois momentos, bastante diferentes entre si. Neste caso, a construção do fato determina o inicio do segundo e último acto. E, talvez aqui, Jon Favreau pudesse ter tido maior atenção, dado que a transição ocorre de forma algo atabalhoada. A acção, embora sempre presente, salta de forma inesperada do ecrã nos últimos minutos. Não que isso seja muito grave. Contudo, teria sido melhor, logo no inicio, dar-nos algo mais violento, ao bom estilo de RoboCop (Paul Verhoeven, 1987) para equilibrarmos a balança.

No final, ficamos com um óptimo filme. Um magnifico tiro de partida para a temporada que se avizinha. Terrence Howard, num papel que faz com uma mão atrás das costas, mais do que preenche os mínimos. Jeff Brigdes, igual a si próprio, não deixa ninguém mal visto. Gwyneth Paltrow, sem a mesma cor do seu par, cria a química suficiente para acreditarmos. Até Stanley Lee, qual Hefner, porventura no melhor cameo da sua carreira, se sai bem. No entanto, o filme tem dois grandes vencedores. Jon Favreau, o realizador que convenceu. E, Robert Downey Jr., que regressa a um patamar do qual nunca deveria ter saído. Perdão, três vencedores. Sim, três. Apesar do dinheiro que lhe sai do bolso, o espectador também ganha alguma coisa, caramba.

3 comentários:

Jubylee disse...

Concordo em pleno com a tua análise. Adorei rever Robert Downey Jr. depois de um "Zodiac", que infelizmente perdeu a atenção merecida por ter estreado tão cedo no ano passado. Estou em pulgas por ver a sequela!

Rita Pereira Trindade disse...

Subscrevo também o que ambos disseram, achei o filme fantástico!
E aproveito para deixar o recado: fiquem na sala até depois dos créditos finais... SURPRESA!!!

:)

Olórin disse...

Oh bugger! Porque não vim aqui antes de hoje...?! Perdi o que quer que seja a surpresa. Btw, excelente filme, bem apresentado e representado.