Tudo o que seja década de 40, mais a atirar para o final, e inicio dos fifties, tende a cair no goto de Alvy Singer. Salvo raras excepções, estamos a falar do mais puro período do pós-guerra. No entanto, mesmo que a obra verse sobre os dias que antecederam a II Guerra Mundial, normalmente, isso não constitui problema. O importante é que a aura da época esteja lá. Então, se a acção do filme se passar no apogeu dos anos 50, muito provavelmente não será preciso a narrativa se preocupar com lógicas, nem os actores em fazer um trabalho credível. Desde que o director artístico acerte o passo, o olhar embasbacado para os cenários encarregar-se-á de fazer esquecer um filme menos bom. No entanto, como cinéfilo constantemente em busca de certificação, é necessário deixar de lado estes caprichos, e procurar avaliar a obra no seu todo. Tarefa complicada, sempre que passa um Buick azul, sempre que alguém saca um pente do bolso da camisa, ou sempre que alguma mulher bonita com o cabelo mais longo é confundida com Rita Hayworth, por aí adiante.
Vários são os títulos deste tempo, ou que reportam ao mesmo, que compõem um dos grupos mais querido desta cinéfilia. Bem vistas as coisas, um filme contemporâneo que retrate a época é capaz de ser ainda mais atraente. Não só pela qualidade da imagem, mas também pela caricatura inerente. Algo que, na altura, não seria tanto assim. Era apenas o ver hábitos e costumes no grande ecrã.
Hoje, dois títulos são recordados com saudade. Estivesse algum deles nestas estantes atrás de mim, e esta noite era certo e sabido. A sorte destes safados é que ainda não lhes deitei a mão. Não há-de faltar muito. O primeiro, Esta Loira Mata-me (Jerry Rees, 1992), o filme que funcionou como Cupido de Kim Basinger e Alec Baldwin. O segundo, Os Dias da Rádio (Woody Allen, 1987), provavelmente aquele que mais merecerá estar ao lado de Annie Hall, Manhattan, e Ana e as Suas Irmãs. Duas películas que, tirando a tal etiqueta dos forties e fifties, pouco ou nada têm em comum. No entanto, o estilo, esse, faz toda a diferença. Assim como as músicas de Glenn Miller, Cole Porter e Billie Holiday. As mesmas histórias, com os mesmos contornos, situadas em 1979, não teriam metade da piada. A par destes dois, estou agora a ver Os Condenados de Shawshank, L.A. Confidential, Regresso ao Futuro II, Boa Noite e Boa Sorte, Conta Comigo, e tantos, tantos outros. Agora, dissecando o inconsciente, e procurando escrutinar as razões por detrás destas saudades, creio que isto será culpa de Steven Spielberg. Muita gente se perguntou sobre o interesse daquela primeira cena, em que um grupo de jovens decide espicaçar a coluna de camiões. Mas, será que alguém olhou para os penteados e vestuário dos irresponsáveis? Já para não falar da relíquia que era aquele carro. O objectivo era apenas o de contextualizar. E, logo aí, fiquei agarrado. No entanto, já agora, aqui fica uma memorável cena de Os Dias da Rádio.
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