Eis que chegamos ao terceiro título do tal trio que estabelece um paralelismo com a técnica argumentativa – um tipo não pode planear um pouco mais as coisas, que demora logo mais dois dias do que o esperado. Para este que se assina, Procurado (Timur Bekmambetov) está ali a meio caminho, entre O Panda do Kung Fu e Hancock. Mais agradável que este último. Não tão arrebatador como o primeiro.
Onde Procurado começa logo por marcar pontos é na mestria com que transforma a mais banal das ideias, no mais apelativo dos acontecimentos. Quantas vezes já nos vendeu o Cinema a história do filho que atira a existência vulgar pela janela, para seguir as pisadas do pai errante que nunca conheceu? Assim de repente, não estamos a ver uma que seja. Mas, já devem ter sido umas quantas, para acharmos que isto roça o trivial. No fundo, olhar para o enunciado da teoria da evolução de Darwin, e aí encontrar a ideal fundamentação para a passagem de um património genético incrível, de geração em geração. Neste caso, um fluxo anormal de adrenalina no sangue, que permite ao assassino mustang uma maior percepção dos estímulos à sua volta. Nos momentos mais intensos, a informação processada por Wesley Gibson (James McAvoy) é tanta, e o batimento cardíaco aumenta de tal maneira, que o pobre coitado sempre achou sofrer de ataques de pânico. Mas, não. Afinal, aquilo era só o assassino dentro dele a querer sair. Isto até ao dia em que Wesley vai à mercearia da esquina, e balas começam a sobrevoá-lo. Em boa hora aparece, então, Fox (Angelina Jolie), para salvar o assustado especialista de conta. Daí à chegada do sapiente Sloan (Morgan Freeman), é um passo.
E, é aqui que o filme se transforma. Não muito. Porém, o suficiente para nos levar a acreditar que um contabilista pode ser o tipo mais mortífero à face da terra. No entanto, a pressa volta a relevar-se inimiga da perfeição. A alteração de Wesley, apesar de profunda, decorre velozmente. Sem as devidas e recomendáveis pausas. Em determinados momentos, ficamos sem perceber se o real problema está na montagem frenética, ou nos gaps narrativos. Não que a história não seja credível, que o é. Até papamos o maravilhoso efeito das balas. Contudo, parece-nos que o filme teria muito mais a ganhar a manter-se naquele registo Fight Club, do tipo pacato e sensato que encontra na violência o escape definitivo. Ao invés, Procurado opta pela rejeição completa da persona primeira. Quase tudo neste filme funciona, excepto isso. Talvez o casting não tenha ajudado. McAvoy é um magnífico actor, no entanto, é inegável que o Wesley Gibson sem sal lhe assenta bem melhor do que o Gibson musculado que despe Angelina com os olhos. No final, o que é que acabamos por ter? Um bom filme de entretenimento, duas horas que passam mais do que bem, tatuagens a mais no corpo de Jolie, um James McAvoy em crescendo, e um Morgan Freeman a justificar todos os cêntimos do bilhete que fiquem por justificar. Diacho do homem, que não consegue representar mal. Freeman, a lenda viva do Cinema.
5 comentários:
A ver se vou ver na 6ª feira... Alvy, fizeste alguma crítica ao The Happening? Não encontrei aqui no blog. É que fui (só agora) vê-lo e não gostei nada. E eu não costumo ser tão radical nas minhas apreciações... De qq forma, gostava de ler a tua. Se está no blog, peço desculpa.
eu sinceramente comentei com alguns amigos meus que nao apreciei muito este filme. realmente concordo ctg quando dizes que se poderia ter apostado muito mais no desenvolvimento do rapaz. acho apenas que todo o desenrolar da coisa é apressado e nao consigo mesmo engolir a historia de se prever o futuro num tear. eu sei que aquilo era manipulado, mas depois havia o tal tear orginal na morávia e aquilo nao convencia ninguem, ou pelo menos a mim. fora isso, tendo em conta que o unico objectivo do filme é entreter, posso concluir que ele cumpriu o seu objectivo. agora se me perguntassem se o compraria em dvd a resposta seria um obvio nao.
Fiquei interessada... é um caso a pensar, principalmente quando se está em época de exames e apetece tudo menos estudar.
De Wanted-Procurado, só se safam algumas belas imagens e as maravilhas que já se conseguem fazer com os efeitos especiais (sem os menosprezar, recentemente revi The Searchers e Stagecoach - filmes com F grande com argumento e sem efeitos).
De resto, penso que Wanted é de fugir.
1 abraço
Pedro Xavier
Concordo em pleno com a opinião. Mas tive pena de não ter saído um filme melhor - tinha potencial, na minha opinião.
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