Não queríamos ir tão longe, mas vai ter de ser. E, o que tem de ser, já se sabe, vem com uma força do caneco. Até ao momento, Hancock é a maior desilusão do ano. Neste ponto, gostaríamos de chamar a atenção para a palavra desilusão, sinónima de termos como decepção ou desapontamento. Tamanha desilusão não significa necessariamente que este tenha sido o pior filme visto nas salas desde que entrámos em 2008. Foi sim, o maior desgosto. E, foi-o em grande parte, devido às expectativas. Não só, por serem elevadas, como também por estarem um pouco equivocadas. Certos trailers e featurettes têm o condão de estragar a posterior experiência de ver o filme que anunciam, levantando demasiado o véu. Em Hancock, o material promocional não só não mostrou em demasia, como aquilo que deu a conhecer não está assim tão relacionado com a história quanto isso. As coordenadas não são bem aquelas e quase que podemos falar em publicidade enganosa.
Apercebemo-nos ainda mais disso, quando nos sentamos em frente do computador para escrever sobre o filme. Apontar o dedo a algumas partes do enredo será um spoiler de todo o tamanho. Coisa que não acontece, por exemplo, em qualquer um dos tomos de Homem-Aranha. Temos o Peter Parker, as desavenças com a Mary Jane, o vilão, os conflitos internos, e aquilo gira quase sempre à volta do mesmo – o que torna o segundo filme num verdadeiro feito. Em Hancock, a narrativa não é assim tão linear. E, examinar as carências da obra de Peter Berg pode arruinar por completo as motivações de qualquer cinéfilo que esteja por aí com vontade de ver este filme.
Aquilo que podemos dizer, acima de tudo, é que este não é o típico filme de super-heróis. Nem tão pouco, o habitual filme do 04 de Julho de Will Smith. Aliás, o grande problema deste filme é mesmo a falta de identidade. Peter Berg, que nos tinha brindado com algumas das melhores sequências de acção de 2007 em O Reino, assina aqui uma obra que não é, nem um portento no capítulo da aventura, nem um colosso no relaxamento que se deseja num filme de Verão. O trailer deixa antever uma obra irreverente, onde nada aparenta ser aquilo que é. Um filme contra a ordem estabelecida, determinado a mostrar o lado oculto, sempre com a boa-disposição de Will Smith. Acção e comédia, de mãos dadas, era o que se esperava deste título. No entanto, a isso tivemos direito apenas a espaços. Bem cedo, o filme opta por seguir outro rumo.
Hancock não deixa de ser um filme sobre um super-herói desleixado, que faz o seu trabalho mal e porcamente. Por obra do destino, Ray Embrey (Jason Bateman), um seguidor do optimismo e perseverança do Richard Hooper (Greg Kinnear) de Little Miss Sunshine, cruza-se com Hancock, e leva-o a crer que uma mudança de atitude pode levar a uma alteração da opinião pública a seu respeito. A velha máxima do comportamento gera comportamento. E, este é o motor do filme. Contudo, lá para o meio, as origens de Hancock vêm ao de cima. Ao mesmo tempo, e com uma preparação inferior a um minuto, surge o vilão do filme. Quase de seguida, um triângulo amoroso onde os vértices não sabem muito bem onde se posicionar. No final, um drama intenso, que raramente permite ao espectador a liberdade que marca os filmes da temporada. A última sequência, quase que parece tirada de um Alien.
Contudo, aqui também há que assumir a culpa. Quando a mensagem não chega convenientemente, o receptor deve reconhecer a sua quota-parte. Acreditamos que, para quem já antecipava algo do género, o filme não tenha sido uma desilusão assim tão grande. Mas, que esperava mais risadas, esperava. Não apontámos a mira como deve ser. Da próxima vez é preciso ter mais atenção.
1 comentário:
O melhor mesmo foi ver o trailer do "Quantum of Solace" antes do "Hancock" começar.
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