A paranóia – para não estar sempre a romantizar esta obsessão com o Cinema e chamá-la de paixão – chega ao ponto de encontrarmos, na mais rotineira das acções, o paralelismo com um qualquer filme. Seja o abrir a porta de um elevador; seja o sentar à mesa ao pequeno-almoço para comer uma tigela de cereais; seja o abrir o porta-bagagem do carro; seja o abotoar a camisa em frente ao espelho; seja o abrir os cortinados de manhã; seja o desligar o candeeiro; seja o estar sentado numa paragem de autocarro; seja o estar à chuva. Seja uma série de coisas. Tudo isto serve para recordarmos uma qualquer película. Até mesmo o simples facto de deixarmos a segunda-feira para trás, e recebermos em troca uma terça-feira.
Agora, não é todas as semanas que isto acontece. Confesso, esta é uma recuperação que ocorre tanto mais vezes quanto menor for a fezada para a terça-feira que se avizinha. Digamos que é uma memória agradável, ou não se tratasse de um belíssimo filme, associada a um sentimento que está longe de ser de euforia. No último Quiz Show, uma das questões era Melhor feel-good movie. Pois bem, este que recordo com alguma regularidade nas vésperas de terça-feira é dos maiores anticorpos que um feel-good movie pode encontrar. Se alguém estiver a precisar de ver o mundo com uma tonalidade mais rosada, mete no leitor O Fabuloso Destino de Amélie, Garden State, Love Actually, Little Miss Sunshine, ou A Bela e O Monstro. Por outro lado, se alguém acha que a vida é um mar de rosas, e se sente com estofo para levar murros no estômago em catadupa, então, Tuesdays With Morrie é o filme a ver. Que é para não haver gente demasiado bem-disposta. Se a Teoria da Compensação serve para alguma coisa, é para nos dizer que por cada sorridente, haverá algures um cabisbaixo. Isto é, por cada cinéfilo feliz da vida depois de ter visto O Despertar da Mente, deverá haver por aí um nas ruas da amargura depois de ter visto E.T.. E, é neste capítulo dos filmes deprimentes que entra Tuesdays With Morrie. Se calhar esta não será a melhor maneira de publicitar a obra, no entanto, não podemos escamotear a verdade. Este não é daqueles que nos deixa a pular de contentamento e a desenhar corações por cima dos is. Contudo, não deixa também de ser um dos maiores hinos à vida captados por uma câmara. Até agora temos dito filme. Porém, nos livros, o nome técnico é telefilme. A qualidade é tanta que nos confundimos. A película, que teve Oprah Winfrey como produtora executiva, chegou à televisão em Dezembro de 1999. No ano seguinte, viria a ser nomeada para um Globo de Ouro e a arrecadar quatro Emmys. Realizado por Mick Jackson (O Guarda-Costas), o filme conta-nos a história de Mitch (Hank Azaria), um jornalista e comentador desportivo cada vez com mais sucesso. Em prol da carreira, Mitch abdica dos pequenos prazeres da vida, e deixa que a relação com a sua namorada se deteriore lentamente. Num dia como tantos outros, Mitch está sentado em frente da televisão. No entanto, a reportagem que vê é sobre Morrie (Jack Lemmon), um dos seus professores de faculdade, que sofre da doença Lou Gehrig.
A partir daí, o filme transforma-se num valente tabefe para o mais amorfo que há em nós. Um Vê lá se acordas que faz-se tarde. O último trabalho – e que maravilha – creditado, do monstro Jack Lemmon. Aquele que mais nos levará a pensar que Azaria terá talvez tido umas aulas de representação. E, sem dúvida alguma, o momento de maior genialidade na carreira de Mick Jackson. Para os demasiado afortunados, ou mesmo para os desventurados, aqui fica a sugestão. É que, por vezes, o fogo combate-se com fogo. Apesar de a obra estar no Youtube na íntegra, não cometam a atrocidade. Depois desta primeira parte, há que ver o filme com a qualidade que ele merece.
1 comentário:
ainda bem que gostas deste telefilme. mas o livro (publicado pela editora onde trabalho) não se fica atrás...
beijinhos!
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