10 de agosto de 2008

Why so serious, son?

Se não fosse por mais nada, rever The Dark Knight valeria a pena só pelo prazer de ver Heath Ledger explicar novamente como ficou com aquelas cicatrizes. Ver um filme destes é uma experiência soberba. Revê-lo, é ainda melhor. Da primeira vez, somos completamente engolidos. Tantos são os momentos em que olhamos boquiabertos para o grande ecrã, que alguns dos pormenores mais deliciosos ficam esquecidos entre suspiros. Wally Pfistir é uma das principais culpadas. A sua fotografia, de tão arrebatadora, quase chega a ferir a vista. No entanto, com um segundo visionamento, percebemos facilmente que a nossa atenção fica à deriva devido a outros elementos. A banda sonora de James Newton Howard e Hans Zimmer é um deles. Da primeira vez, ficou a dúvida. Contudo, desta vez, já foi possível confirmar as similitudes com a partitura de Jonny Greenwood, em Haverá Sangue. Em ambos os casos, acordes angustiantes, que tardam a anunciar um futuro risonho. Presente em quase toda a acção, a banda sonora é a confirmação de que algo não está bem em Gotham City. Não é preciso o Joker aparecer. Basta ouvir as cordas.

Se não fosse por mais nada, rever The Dark Knight valeria a pena só pelo prazer de ver novamente os cortes em que, sob a batuta da montagem de Lee Smith, a câmara passa da Juíza Surrillo, para o Comissário Gillian B. Loeb, para a festa organizada por Bruce Wayne, para voltar ao Comissário Gillian B. Loeb, para voltar à festa organizada por Bruce Wayne, para voltar à Juíza Surrillo, vezes sem conta, com a música sempre em crescendo, antes de o Joker entrar em cena. Todo e qualquer instante com Heath Ledger, é um regalo. O olhar perdido no tecto. O tique da língua. O registo de voz, agora mais aguda, agora nem tanto. O andar. Para ver, e rever. Tudo nele é admirável. E, de certa forma, esta admiração é transposta para a personagem. Agora, resta saber até que ponto esta projecção de fascínio está prevista no argumento. Será que também era previsível sentirmos empatia pelo Neil McCauley de Roberto De Niro, em Heat (Michael Mann, 1995)? Ou pelo Frank Lucas de Denzel Washington, em Gangster Americano (Ridley Scott, 2007)? Em The Dark Knight, passa-se precisamente o mesmo. A certa altura, Joker diz que ele e Batman estão destinados a lutar a vida toda. É exactamente o que pretendemos. Que este combate jamais termine. Que o bem prevaleça, é certo, mas não porque o mal tenha de perder. Provavelmente, o argumento dos irmãos Nolan já tenha sido arquitectado com esse objectivo. Mesmo que assim seja, mérito seja dado a Heath Ledger por concluir o trabalho com distinção. E, que distinção.

Se não fosse por mais nada, rever The Dark Knight valeria a pena só pelo prazer de ver novamente dois barcos perdidos em pleno rio. Da primeira vez, ao sair da sala, a sensação foi a de ter visto um filme soberbo. Um dos melhores do ano, sem sombra de dúvidas. Da segunda vez, foi ainda melhor. A terceira será esta semana.

Sem comentários: