Antes de nos perguntarmos porque é que este título consta da lista dos mais aguardados para 2008, devemo-nos questionar sobre o significado da palavra synecdoche, em português, sinédoque. Convém saber do que estamos a falar (e, Alvy Singer não faz a mínima ideia), mesmo quando temos a desculpa do Word sublinhar o vocábulo a vermelho, por não constar do seu dicionário. Não se pode contar contigo para nada, XP. Segundo a Infopédia, sinédoque pode ser descrita da seguinte forma:
“Figura de retórica, para muitos autores indistinta da figura da metonímia, ou considerada como um tipo de metonímia na qual se exprime uma parte por um todo ou um todo por uma parte (Moscovo caiu às mãos dos alemães), o singular pelo plural (quando o Gama chegou à Índia), o autor pela obra (estou a estudar Pessoa), a capital pelo governo do país ("Washington decidiu enviar tropas para o Iraque"), uma peça de vestuário pela pessoa que o usa (um vestido negro surgiu pela porta), etc. Na verdade trata-se da inclusão ou contiguidade semântica existente entre dois nomes e que permite a substituição de um pelo outro”.
Agora sim, passemos ao filme. Razões para este fazer parte do eleito, são mais que muitas. A começar pelo realizador, que também assina o argumento: Charlie Kaufmann. Argumentista de pequenas pérolas como Natureza Humana (2001) ou Confissões de Uma Mente Perigosa (2002). Argumentista de obras magníficas como Queres Ser John Malkovich? (1999) ou Inadaptado (2002). E, por último, argumentista de clássicos instantâneos, como O Despertar da Mente (2004). Tem aqui, finalmente, a sua estreia na realização. Já não era sem tempo.
Para além do realizador, temos o elenco. Nomes de peso que só nos podem levar a esperar o melhor: Philip Seymour Hoffman, Michelle Williams, Catherine Keener, Jennifer Jason Leigh, Samantha Morton, Emily Watson e Dianne Wiest. Quantos cineastas é que se podem gabar de ter tido seis nomeados para um Oscar, no seu primeiro trabalho atrás das câmaras?
Em terceiro lugar, temos o plot. Existem, em diversos sites sinopses, com quase dois quilómetros. Como estamos a lidar com um argumento de Kaufmann, quanto menos, melhor. Por essa razão, dizemos apenas que esta é a história de Caden Cotard (Hoffman), um encenador que pensa estar à beira da morte. Receoso de partir em breve para outras paragens, Cotard decide criar a sua última peça, a sua obra-prima. O pensamento de que está a morrer condiciona as suas interacções com as pessoas que o rodeiam, com o seu trabalho e com as artes que tanto admira. O maior problema, contudo, surge quando é necessário criar um cenário credível de New York, em pleno palco. É que Cotard quer os tamanhos, o mais próximo da realidade.
Por último, o factor cidade. O filme chama-se Synecdoche, New York. E, estas duas últimas palavras fazem toda a diferença. As expectativas em torno deste filme estão tão elevadas quanto o observatório do Empire State Building.
4 comentários:
Não posso concordar mais... excepto que para mim este filme seria, provavelmente, o primeiro da lista dos 30 mais aguardados de 2008!
Finalmente vai terminar o longo tempo de espera pelo novo trabalho do genial Charlie Kaufman!
E se este filme for tudo o que aparenta ser, acho que a escolha do melhor filme em Cannes será bastante complicada!
Quero ver como é que eles vão traduzir este título..Palpites?
o senhor(a/es/as) freakyanas disse o que eu viria comentar, ou seja, porque é que este não aparece num dos 10 primeiros (penso que esses estão reservados para filmes ainda melhores, por isso até tenho dificuldade em pensar que filmes ocuparão esse famigerado lugar).
por outro lado, era só para fazer uma pergunta - que só faço por ser calão - que é seguinte: não está este filme na competição deste ano no festival de Cannes, é que se está só deverá cá chegar para o ano (e provavelmente lá para o final), ou mesmo para outro.
Freakyanas, aqui entre nós, bem que poderia ser o primeiro. No entanto, pela fórmula matemática que nos diz "Expectativas Altas + Filme Fracote = Trombas", prefiro tentar convencer-me de que não aguardo tão ansiosamente por ele. O que não passa de uma enorme mentira.
M. Ferreira, só de pensar nisso, já roo as unhas.
Sim, Ricardo. Está na selecção oficial. A sua estreia não deve estar para breve, não senhor.
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