Ontem convidei a Annie para ir ao cinema. Acedeu, desde que não fosse para ver The Sorrow and the Pity (Marcel Ophüs, 1969). Contudo, não ficou explícito se o convite era para ver o mesmo filme. Porque a ideia geral era apenas ir ao cinema, acabámos por ir, mas, uma vez chegados ao multiplex, foi cada um para seu lado. Uma sessão dupla estava fora de hipótese, por isso, havia que escolher ajuizadamente. Ela foi para Lars e o Verdadeiro Amor, enquanto eu fiquei-me por Um Belo Par… de Patins. Nesta relação já cedemos o que havia a ceder. Ambos começavam à mesma hora e, no final, o primeiro a sair não deveria ter de esperar muito tempo. Resolvido o breve impasse, lá fomos.
E, apesar dos rasgados elogios que a Annie tinha reservado para Lars e o Verdadeiro Amor, creio que, à saída, o maior sorriso era o deste que se assina. Ainda não é com este filme que podemos dizer mal da Apatow crew. Longe disso. Nem sequer podemos dizer que não corresponde às expectativas. Um grande filme é aquele que corresponde às expectativas, e guarda ainda alguns trunfos na manga. Este, no mínimo, corresponde. Não estamos perante um Knocked Up. Nem um Superbad. Contudo, isso não significa necessariamente que esta é uma obra inferior. Até pode ser, mas, mesmo que seja, é por muito pouco.
À imagem do que acontece em outros filmes com o dedo de Judd Apatow, Jason Segel, o argumentista, assume também o protagonismo, continuando a provar a tese de que aquele que escreve a história parece ter uma apetência natural para o papel principal. Na realização, o estreante Nicholas Stoller não compromete. A máquina desta equipa que vai deixando marcas na comédia recente, parece tão bem oleada, que este tipo de projectos deverá ser cada vez mais encarado como o princípio de carreira ideal para qualquer cineasta. Dificilmente alguma coisa há-de correr mal. Em última instância, e se quisermos ser reducionistas obtusos desprovidos de qualquer sentido de humor, os filmes com o cunho de Apatow limitam-se a mudar linguagens. Por isso é que surgem aquelas sentenças taxativas “Superbad é a melhor comédia adolescente desde…”, ou “Knocked Up é a melhor comédia romântica desde…”. A grande razão para estas comédias serem as melhores dos nossos tempos, é porque retratam nos nossos tempos. Falam do tipo que mora do outro lado da rua. Daquele que, em pleno século XXI, resolve um desgosto amoroso com uma viagem ao Hawai.
Num filme repleto de gags bem conseguidos, mérito seja dado à forma como algumas das melhores piadas do filme acabam por ser aquelas que provocam os mais silenciosos dos risos. A começar no tema Actores de televisão que pretendem dar o salto para o Cinema, que não podia ser mais adequado, quando vemos na tela actrizes como Mila Kunis (That’s 70 Show), e Kristen Bell (Veronica Mars), ambas celebrizadas em séries já canceladas. Também o recurso a uma série com o nome de Crime Scene, quando Jason Segel participou em três episódios de CSI. Ou, talvez a melhor, a referência a American Psycho II, obra no currículo de Mila Kunis, na cena em que Peter (Segel) e Aldous (Russell Brand) ridicularizam as opções de carreira de Sarah Marshall (Kristen Bell). Para além destes recreios, aquilo que podemos esperar é um continuar da fórmula de filmes anteriores desta troupe eficiente.
Algumas piadas de cariz sexual que convidam os mais pequenos a ficar em casa. Alguma previsibilidade que fica sempre bem num desgosto desta natureza. Mas, tudo regado com um toque especial. Como a running joke da lua-de-mel problemática da personagem de Jack McBrayer, que leva com um workshop sobre o tema em plena praia. Ou como a deliciosa música do Conde Drácula criada por Peter para o seu musical estilo Marretas, ou a mais libertina de Aldous Snow, Inside of You. A presença de caras habituais como Jonah Hill, Paul Rudd ou Bill Hader transmitem uma sensação de familiaridade agradável. No final, acaba por ser a melhor comédia do ano, até esta altura. O pior disto tudo, é que a malta de Apatow continua a habituar-nos mal. Um dia, hão-de fazer um filme mau – cruzes canhoto –, e, irados, caímos-lhes todos em cima. Nessa altura, convém recordar que já fizeram qualquer coisa como este belíssimo Forgetting… não, o nosso é mais bonito… Um Belo Par… de Patins.
(O que a Annie não sabe é que lá estarei amanhã para ver Lars e o Verdadeiro Amor. No mesmo sitio, à mesma hora).
2 comentários:
Não gostei tanto como "Superbaldas" ou "Um Azar do Caraças". Mas, não deixa de ser uma comédia muito aceitável. Ainda não consegui identificar bem o que é, mas estes filmes produzidos por Apatow têm mesmo um cunho pessoal que os identifica logo. Quase que basta termos visto "Virgem aos 40 Anos" para reconhecermos imediatamente o pessoal envolvido na produção. Só tenho pena que não tenham apostado mais nos flashbacks, algo que teria distanciado mais o filme dos outros que esta equipa já fez.
Já que falas em séries canceladas e em Apatow, parece que ele também aposta forte nos actores de "Freaks and Geeks", que passou na Radical e teve só uma temporada (de muito boa qualidade!). Quase todo o elenco da série já participou nos seus filmes...
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