31 de maio de 2008

Um filme real.

Ontem o Alvy convidou-me para ir ao cinema. Acedi, desde que não fosse para ver The Sorrow and the Pity (Marcel Ophüs, 1969). Contudo, não ficou explícito se o convite era para ver o mesmo filme. Porque a ideia geral era apenas ir ao cinema, acabámos por ir, mas, uma vez chegados ao multiplex, foi cada um para seu lado. Uma sessão dupla estava fora de hipótese, por isso, havia que escolher ajuizadamente. Ele foi para Um Belo Par… de Patins, enquanto eu fiquei-me por Lars e o Verdadeiro Amor. Nesta relação já cedemos o que havia a ceder. Ambos começavam à mesma hora e, no final, o primeiro a sair não deveria ter de esperar muito tempo. Resolvido o breve impasse, lá fomos.

Desconhecendo o resultado de um outro visionamento, apenas poderei dizer que dificilmente seria melhor do que este. Lars e o Verdadeiro Amor, realizado pelo estreante Craig Gillespie, é um dos filmes mais originais dos últimos tempos. No entanto, dizer isto não chega. No Cinema, como em tudo o resto, não basta ser original. Há que ser um original positivo, daqueles que levam os outros a pensar que vale a pena copiar a fórmula. E, neste filme, há muito material inovador para ser reproduzido pelas mentes mais preguiçosas de Hollywood.

Contudo, deveremos também reconhecer que nem tudo é novo nesta obra. A começar na mensagem, porventura a mais recorrente dos filmes da Disney: Aceitação. No fundo, este é um filme sobre diferenças interpessoais e de como, por vezes, somos capazes de esbater essas mesmas desigualdades com um pouco de flexibilidade mental. Lars e o Verdadeiro Amor testa-nos. Põe-nos à prova. Leva-nos a questionar até que ponto estaríamos receptivos a enfrentar esta realidade, e de que forma lidaríamos com a mesma. Porque, o original aqui é a forma como o argumento brilhante de Nancy Olivier nos coloca no fio da navalha. Uma comunidade inteira aceitar que um homem acredite estar a namorar com uma boneca de plástico, anatomicamente correcta, não é coisa que se faça de ânimo leve. E, todos sabemos que alhos não são bugalhos. No entanto, a narrativa encarrega-se de mostrar-nos que não é assim tão difícil fazer passar alhos por bugalhos.

Mais do que apelar a moralismos, o filme procura promover reflexões. Daí todas as transições, algumas vezes até bruscas, entre momentos hilariantes e mais sombrios. Aliás, convém não irmos ao engano, e até alertar talvez para o facto de o trailer passar a imagem de um filme muito mais cómico do que é na realidade. Em grande parte, esta é a triste história de um homem que tudo faz para evitar o contacto humano. Mas, em abono da verdade, o conto só é triste enquanto não abraçamos a ilusão. Uma vez na sua fantasia, tudo isto não passa de uma experiência como outra qualquer. Perdão, uma maravilhosa experiência como outra qualquer. Resta dizer que Ryan Gosling está feito um senhor actor. Num ano demasiado competitivo, e nivelado por cima, era complicado obter uma nomeação para o Oscar. Porém, após o visionamento deste filme, garanto que hoje não me chocaria se tal tivesse ocorrido. Uma obra magnífica, que demorou demasiado tempo a chegar às nossas salas.

(O que o Alvy não sabe é que amanhã vou ver Um Belo Par… de Patins. Só espero é que, se ele se lembrar de ir ao cinema, não vá ao mesmo sitio…).

2 comentários:

Cataclismo Cerebral disse...

É, de facto, um conto magnífico sobre a solidão e a esperança. E os bons sentimentos daquela pequena comunidade chegam a ser comoventes.

Abraços

Arte Revisitada disse...

Eu sei que o que vou dizer nada tem a ver com o post acima mas, Annie, é só para te informar que estás no topo do "20 Most Iconic New York Women", organizado pelo site rottentomatoes.com

Podes ver aqui

Parabéns :P

Pedro Xavier