Não fosse ontem o comentário do Hugo, leitor deste blog, e continuaria a achar que Blade Runner (1982) havia regressado em força às salas nacionais. Até ontem, confesso, não fazia ideia que o clássico de Ridley Scott só tinha (re)estreado numa sala de Lisboa. Mais tarde, tive oportunidade de verificar que o desalento perante este facto já tinha até sido demonstrado na blogosfera, por exemplo, no Grandes Planos. Não é caso para menos. A entrada desta pergunta, no Grande Livro dos Porquês, deverá ser equacionada nos próximos anos. Ao lado de Porque é que o rosto fica vermelho quando estamos embaraçados?, ou, Porque é que bocejamos?, deverá constar, Porque é que, em Portugal, continuam a estrear bons filmes somente numa sala, quando existem mais de 200? Inspirar. Expirar.
No entanto, não é este desânimo que nos traz aqui, mas sim, o documentário de Charles de Lauzirika, Dangerous Days: The Making of Blade Runner, incluído na caixa de cinco Dvds comemorativa dos 25 anos do filme. No DN Online, Eurico de Barros apelida-o, e bem, como o complemento perfeito. Se há algo de que não nos podemos queixar, no fim do documentário, é de que ficou algo por dizer. Os relatos minuciosos da produção, as incertezas quanto ao sucesso do filme, as alterações que o projecto sofreu, tudo isto consta do documentário de Lauzirika. E, nas entrelinhas daquilo que é descrito ao longo destas escorreitas três horas e meia, surge-nos uma questão. Quase como que uma provocação lançada pelos produtores de Blade Runner. Ao contextualizarem a resistência que o filme encontrou nas bilheteiras, e, em parte, em alguns críticos, a equipa responsável pelo filme de culto de Scott relembra-nos que o Verão de 1982 foi uma temporada atípica em Hollywood. Foram muitos os lançamentos de obras direccionados para adolescentes, sobretudo, de cariz viril. Até o filme da Disney desse ano, Tron (Steven Lisberger), não escapou às orientações. Este foi o Verão de Conan the Barbarian (John Milius), Rocky III (Sylvester Stallone), Poltergeist – O Fenómeno (Tobe Hooper), Star Trek: The Wrath of Khan (Nicholas Meyer), Veio do Outro Mundo (John Carpenter), Sexta-Feira 13 – Parte 3 (Steve Miner), O Turno da Noite (Ron Howard), e Mad Max 2: O Guerreiro da Estrada (George Miller).
Contudo, nesse mesmo Verão, surgiu uma obra que destoo, e muito, desta enxurrada, na qual Blade Runner acabou por passar algo despercebido – por alguma razão o filme rendeu apenas 27 milhões de dólares. Aliás, seriam precisos alguns anos para que Blade Runner e Veio do Outro Mundo recebessem a atenção merecida. Este filme, que ofuscou os demais, viria a tornar-se no maior sucesso de bilheteiras de todos os tempos, ultrapassando os números de Star Wars. E, durante alguns minutos, no documentário de Lauzirika, percebemos que E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg), continua atravessado àquela gente. Apesar de serem obras distintas, a malta de Blade Runner aponta o dedo, sem ofensa nem mágoa, a E.T., atribuindo à sua grandiosidade ao longo do Verão, os fracos resultados obtidos. A verdade é que, durante muito tempo, ninguém sabia o que era Blade Runner, quando E.T. phone home já corria nas bocas do mundo. Hoje, percorrendo trilhos diferentes, ambos têm o seu lugar reservado na História do Cinema. No entanto, porque esta dúvida nos invade ao ver o documentário, se tivéssemos de optar entre estes dois, qual escolheríamos?
7 comentários:
Realmente, é triste que obras-primas como esta estreiem apenas numa sala, e que comédias tolas estreiem em todo o lado...
Mas espera, isso compreende-se, é que por aqui, é o "cinema tolo" que rende, acabando a maioria por desconhecer verdadeiras obras de arte...
O E.T. é mágico, mas escolhia sem dúvida o Blade Runner.
Um grande abraço!
"Blade Runner" é um filme,para mim,muito bom mas não é uma Obra-Prima como ouço dizer por aí.
"E.T" é,de facto,para mim,superior a "Blade Runner".
Eu só espero que reponham também em sala muitos outros filmes que deviam ser colocados e ainda não foram.
Blade Runner
E.T. sem dúvida!
E.T., num piscar de olhos.
E.T.... E não há mais discussões :P
Tenho dito.
Saudações, Brain-Mixer.
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