26 de maio de 2008

Mais do que meio-cheio.

Primeira ideia a reter: estamos a falar de Indiana Jones. Estamos a falar de um herói que marcou toda uma geração. Perdão, toda uma geração não. Que, durante uma geração (vá lá, oito anos, de 1981 a 89), marcou todas as gerações que o viram no grande, ou no pequeno ecrã. Porque, na altura, alguns eram muito pequenos para vê-lo no grande. Tiveram de esperar, e vê-lo apenas com todo o requinte que só um vhs permitia. Alguns, se calhar, até recordam os três primeiros capítulos da saga como três dos primeiros filmes que viram. Porque, aos sete anos, com maior ou menor dificuldade, já dá para acompanhar as legendas. Estamos a falar de um herói que atravessou gerações. Que uniu miúdos e graúdos, num fascínio inabalável por um tipo de chicote e chapéu. Um tipo que ganhava a vida num part-time como professor na Universidade, mas que era a escavar nos locais mais recônditos do planeta que ganhava a nossa estima.

Segundo dado importante a não esquecer: estamos a falar de Indiana Jones. Uma trilogia que ameaçou deixar-nos, para não mais regressar, em finais da década de 80. Estamos a falar de alguém que não nos procurou durante quase vinte anos. É chato quando queremos estar com alguém, e essa pessoa não quer estar connosco. Isso tem nome, mas rejeição é o único que me vem à cabeça. Com Indy, foi mais ou menos isso que nos aconteceu. Depois de termos visto os três primeiros filmes, queríamos mais. Mas, ele não estava para aí virado. Se pretendêssemos a sua companhia, lá tínhamos de ir à cassete, ou, posteriormente, ao Dvd, e recuperar as aventuras de outros tempos. Indy não queria voltar, mas nós fazíamos questão de tê-lo bem por perto, ali na estante, para o caso da saga se ficar mesmo pelo terceiro volume. O pack, para muitos, não é mobília. É família.

Terceiro aspecto que convém sublinhar: estamos a falar de Indiana Jones. Um nome que encerra em si muito mais do que uma simples película enrolada à volta de uma bobine. Estamos a falar de alguém que nos marcou, nos abandonou, e decidiu regressar às nossas vidas quando bem lhe apeteceu. Isto é coisa para deixar um tipo lixado. Mas, como é Indy, ainda conseguimos perdoar. Este é um filme que aparece, quando todos o aguardávamos de braços abertos. Tivesse um quarto capítulo surgido em meados da década de 90, e algumas vozes se insurgiriam. Vinte anos depois, todos sentem a sua falta. No entanto, vinte anos depois, nem todos aplaudiram o seu regresso. Aliás, mais do que isso, vinte anos depois, alguns dizem agora que preferiam ter ficado apenas com aquilo que há já bastante tempo se orgulham de ter ali na estante. Nem uma semana depois de o filme ter estreado, qualquer crítica positiva ao filme, constrói-se numa base de defesa à obra, e não dum enaltecimento da mesma.

Quarto, e último ponto a focar: estamos a falar de Indiana Jones. É precisamente por ter gostado deste quarto filme, que me recuso a defendê-lo. Porque estamos a falar de Indiana Jones, e Indiana Jones não o merece. Verdade seja dita, gostei tanto do filme, que até o sacana do Shia LaBeouf se safa. Não sei se o rapaz terá estofo para aquilo que ficou subentendido, no entanto, para o trabalho que lhe foi pedido agora, deu bem conta do recado. O mesmo com Cate Blanchett, Karen Allen e John Hurt. Por aí fora. Estas coisas não se decidem. Ou cai, ou não cai no goto. Felizmente, para Alvy Singer, este caiu. E, perdoem-me o tom paternalista destas últimas palavras, mas, depois de tudo aquilo que foi lido e ouvido nos últimos dias, há uma frase célebre que associo imediatamente àquilo que se está a passar com este filme. Não chores quando o sol se põe, porque isso impedir-te-á de ver as estrelas. Não acredito que vivalma tenha vertido uma lágrima, como resultado do enorme desgosto perante esta obra. No entanto, parece-nos que este é o verdadeiro mal em torno do filme. Uma das coisas que aprendemos com Indiana Jones foi a encontrar tesouros. E, este Reino da Caveira de Cristal tem alguns. Não estão é no sítio do costume.

7 comentários:

Anónimo disse...

Alvy, não podia estar mais de acordo consigo. Ainda bem que encontro alguém que sabe realmente o que este filme significa.

claudiagameiro disse...

Totalmente de acordo com a Maria!

Anónimo disse...

Eu sou da opinião de que para muitos o problema é exactamente o que o Alvy referiu: o pack já não é mobília, é família. Como tal, passados estes 20 anos a ver e rever os mesmos filmes, qualquer coisa que venha já soa mais a filho bastardo.
Eu, por mim, adorei o filme.

Anónimo disse...

Fico contente por haver quem goste da obra. Assim como fico feliz por qualquer pessoa a quem aconteça algo de bom - de um modo distante e impessoal...

Bem tentei, mas não consegui retirar praticamente nada de positivo do filme.

O meu voto, 3, já lá está no IMDB...

JB disse...

Realmente é o pior dos 4 filmes de Indiana, mas caramba, o filme é bom que se farta! Não consigo compreender tantas vozes críticas ao filme. Spielberg dá lições de como se faz puro entretenimento. Indiana é isso mesmo: entretenimento e quase que uma religião.
Afirmam os detractores que o filme tem cenas inverosimeis: pois, os outros também estão cheios de cenas assim.
Afirmam os detractores que não tem cabimento meter lá ET's no meio: caramba, o filme passa-se na década de 50, pós caso Roswell e com toda a polémica da Area 51. Foi muito pertinente o argumento se basear nisso.

Pois, não é mesmo o melhor dos 4 pela simples razão que surgiu quase 20 anos depois do último. Habituamo-nos a ver os 3 primeiros como relíquias nas quais não se pode mexer. São clássicos do cinema. E por surgir nesta época é que nenhum filme se torna um clássico no verdadeiro sentido da palavra.
4/5

Anónimo disse...

É exactamente essa a minha sensação.Os outros 3 quase que funcionam como um só. Qualquer coisa que venha a seguir (ainda por cima 20 anos depois), sujeita-se ao rótulo, algo fácil, de acrescento. "Eu, por mim, adorei o filme". Também eu. E muito me ri, quase como se fosse criança outra vez. Só que desta vez, no cinema (coisa abençoada, Indy no cinema)!

Anónimo disse...

Outra coisa: depois de ver o filme, duas dúvidas me assaltam o espírito cinéfilo. A 1ª é incontornável, quase um cliché: até que ponto devemos deixar que a idade real influencie um filme e o seu argumento? Será que este Indy devia seguir os passos de 007, por exemplo, e assim teríamos o mesmo Indy de há 20 anos, interpretado por outro actor (assim de rompante)? Ou será que esta adaptação ao tempo foi a coisa melhor conseguida do filme, que é o que eu acho (notável ainda a homenagem subentendida a Denholm Elliott - mais ao actor do que propriamente à personagem, Marcus)?
A 2ª questão não tem, certamente, resposta clara: ao que parece, Seam Connery rejeitou o papel que lhe estava destinado. Seria melhor termos um Henry Jones vivo? Como seria o argumento com esta personagem? E como ficaria o filme? Que dúvida, caramba...
Que acha o Alvy?