Aqueles que acompanham, de outras paragens, a escrita deste que se assina, provavelmente, já terão reparado. Mesmo assim, convenhamos, até pode ter passado despercebido. Verdade seja dita, o esforço tem sido sempre no sentido de camuflar este facto. Modéstia à parte, não seria surpreendente ouvir de alguém de bom senso, que Alvy Singer é um tipo sabido, cuja palavra deve ser escutada com ponderação. Caso alguém se entregue a estes textos dessa forma, fica aqui a recomendação para deixar de fazê-lo. É certo que, a cada dia, a experiência aumenta, bem como o conhecimento. No entanto, desde aquele primeiro post no Deuxieme, em Novembro de 2006, existe aqui uma dissimulada sapiência sobre a sétima arte. No entanto, apesar de reconhecer que até entendo qualquer coisa sobre Cinema, a verdade é que nada supera o empenho de fazer passar a ideia que percebo mais disto do que o tipo ao virar da esquina. Agora, para alguém mais perspicaz, isto é algo que salta logo à vista.
Na noite em que o Yada se redefine, sinto que é chegado o momento de acertar as pontas, e deixarmo-nos de rodeios. É chegada a altura de dizer que não passo de um fedelho. De um cinéfilo ainda a cheirar a fraldas, à procura de alimento para sonhos. De um tipo que há meia dúzia de anos nunca tinha visto um Kubrick, um Visconti, ou um Kurosawa. De um rapazola com uma barba de trazer por casa, que por vezes não abre a boca na presença de outros amantes da sétima arte, tal é receio de ser troçado, tantos são os filmes obrigatórios que ainda não viu – que Portugal ganhe o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se disse algo para além de Olá, boa tarde, na primeira reunião de redacção na PREMIERE. Antes que esta chávena encontre um novo pires é importante sublinhá-lo. Não passo de um fedelho.
Um badameco que adora escrever sobre Cinema, e sonha um dia retirar desta sentença o vocábulo sobre. E, já que estamos numa de ser completamente transparentes, aqui revelo a minha derradeira fantasia. Escrever uma longa-metragem, e saber que esta foi a responsável por um divórcio. Isto porque, segundo uma qualquer corrente filosófica cuja terminação agora me falha, melhor do que fazer o bem, é emendar o mal. No fundo, tudo isto não passa de um desígnio manifesto de tocar vidas. Em Abril deste ano, o Deuxieme não parecia o reduto indicado para este regozijo. Deslocado no tempo e espaço, era necessário criar um novo blog e separar as águas. Hoje, com o regresso da PREMIERE, continuar aqui a escrever sobre Cinema seria o mesmo que dar tiros para o ar.
Faz amanhã uma semana que o telefone tocou por causa do primeiro trabalho para o novo número da PREMIERE. Aliás, foi só na entrega de trabalho que fiquei a saber que estaria novamente a bordo deste projecto. Palavra de honra, nunca soube tão bem ouvir a recomendação Não te estiques nos caracteres. O Yada, por seu lado, continuará. Se calhar, passará a ser um daqueles blogs de fim-de-semana, ou somente de um post por dia, talvez só com uma fotografia. Seja de que maneira for, existe um lado extra Cinema que encontrará forma de ser expelido por aqui. Tudo o resto, volta ao Deuxieme.
Da mesma forma que as palavras fugiam quando pretendia descrever a mescla de sensações ao perder a revista, hoje não é mais fácil espelhar a emoção ao saber que o esforço do José Vieira Mendes não tinha sido em vão. Há uns anos, quando a barba ainda não passava sequer de um mero vestígio, no caminho entre a papelaria da praxe e casa, ao folhear irreflectidamente as páginas da revista, lancei-me sem olhar para atravessar a estrada. Uma travagem brusca permitiu terminar aquele dia do Criswell. Nunca estive tão perto de ser atropelado como naquele dia em que o mestre falou sobre as vicissitudes de um afamado multiplex da capital. Daí que não seja difícil imaginar o quão feliz não estarei por saber que metade desta equação volta a ser real. Só falta mesmo a pura distracção antes de atravessar.
A partir de amanhã, Deuxieme. Caramba, ainda custa a dar isto por adquirido. Também, para quem gosta de Cinema e está habituado a acreditar em impossíveis, nada mais natural do que a concretização de um sonho.